quarta-feira, junho 15, 2005

Jantar com Álvaro Cunhal

Já me tinha passado pela cabeça uma ou outra vez, fazer uma série de posts que consistiam em enumerar individualidades com quem gostaria bastante de poder ter um jantar onde pudesse falar sobre o mundo, perguntar-lhes o que lhes vai/ia na alma, o porquê de determinadas opções e algo mais que viesse à baila.

Um dos jantares que adoraria ter tido, e visto vir mesmo a propósito, será o primeiro a ser falado aqui.

Esse jantar era com uma das mais marcantes personalidades portuguesas do século XX - Álvaro Cunhal.

Como muitos já disseram, Cunhal foi uma figura impar na nossa história. Foi das pessoas mais activas antes, durante e depois da época que eu mais desejava ter vivido: o 25 de Abril.

Admiro quase tanto quanto invejo os anos que ele passou a lutar pela libertação de um povo, de um país, dando toda a sua vida por uma causa em que cegamente acreditou, a coragem que esteve sempre presente, principalmente nos mais de 8 anos de prisão solitária (como é que é possível ficar 8 anos numa solitária e conseguir continuar?), a sua coerência.

Sem querer falar aqui da sua vertente estalinista (isso apesar de determinante, fica para os mais entendidos), a vida deste homem é de um romantismo enormíssimo. Acho que um dos maiores problemas da nossa sociedade é a falta de ideais, a falta de causas para serem defendidas. Ou melhor, não é tanto a falta de causas/ideais mas mais a cegueira do povo em não ver que existem causas/ideais que têm que ser defendidos, lutas que ainda não acabaram, bem pelo contrário apenas mudou o modo de luta e o por quem se luta. Os bestiais já não são os operários nem as bestas os patrões. Agora há de tudo, há quadros altos assim como quadros médios e também claro está os tais operários que têm que continuar a luta mas também há os tais... "prontos", realmente a grande maioria da entidade patronal continua a ser besta... mas isso são outros quinhentos. A forma de luta tem que se adaptar aos nossos tempos. As suas formas de pensar e de agir já eram. Já nem tudo está contra eles. O PCP mantém métodos excessivamente antiquados e anti-democráticos quer por dentro quer por fora do partido... aliás a democracia é um dos grandes pontos que gostava de falar com ele. A democracia não era nada bem aceite por ele ou melhor, por todos os comunistas e isto é a meu ver uma das mais graves falhas. A luta/revolução é que os tem de fazer chegar ao poder!?!... Acordem! Aliás... isto foi o que fez um grande amigo meu depois de eu lhe ter feito ver a luz! :) Virou democrata e hoje em dia é fundador do movimento/partido dos renovadores comunistas. :)))

Gostava imenso que me falasse dos sentimentos que lhe iam na alma durante a sua vida mediante os acontecimentos politico-económico-sociais que o Mundo/Portugal foram vivendo.

Derrotado? Talvez sim talvez não! As teses que ele defendia não foram atingidas e nem sempre estavam certas, mas deixou uma marca muito grande em Portugal... basta ver a quantidade de portugueses que o seu desaparecimento fez movimentar.

1 comentário:

José Carlos Gomes disse...

Presunção e água benta, cada um toma a que quer! Essa de me teres feito ver a luz é do caralho!
Por muito que me custe, quem me fez ver a luz foi o... Álvaro Cunhal. E verdade, quando me fecharam uma semana, com mais uma dezena de jovens comunistas, na escola do PCP para um curso de formação ideológica, abri os olhos. A primeira aula, como não podia deixar de ser, foi dada pelo Cunhal. Fiquei estarrecido quando o gajo chamou «traidores» aos comunistas franceses por apostarem nas eleições e por terem ido para o governo em coligação com os socialistas de França. Foi uma semana de lavagem ao cérebro que, a mim, lavou, de facto: percebi que o meu lugar não era ali. Ainde me mantive mais três anos e meio no PCP tentando a renovação. Quando fomos derrotados pela conspiração interna cunhalista, que cagou na democracia partidária e nas decisões renovadoras já tomadas, saí.
Quanto à participação popular no funeral, vê o texto que escrevi no meu blogue.