segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Mudar de casa

Ao fim de quase 20 anos a morar na mesma casa eis que mudo de casa. Sempre fui uma pessoa de me apegar muito às coisas que se cruzam na minha vida. Todas fazem parte de mim, das minhas memórias, daquilo que eu sou. Fico sempre algo triste quando me tenho de desfazer delas. Em relação à casa constatei sentimentos diferentes do que o que estava à espera. Surpreendeu-me o que, diga-se passagem, não é normal. Isto porquê? Porque descobri que, ao contrário do que eu pensava, o que faz a casa não são as paredes e o espaço, mas sim o recheio dela, quer a nível de pessoas quer de objectos pessoais e não só. É que, a última vez que fui ao meu antigo apartamento ele já estava todo vazio e à medida que ia entrando nele, aquilo ia-me parecendo cada vez menos meu. Já não me pertencia. Nem fiquei triste nem contente. Simplesmente algo indiferente ao facto de o deixar. Estive sempre consciente que a minha casa estava noutro lado. Precisamente onde estão as minhas coisas. Os meus livros, os meus cd's, o meu pc, as minhas fotografias. As minhas memórias estão em mim, os meus objectos estão na minha casa nova... nesta casa antiga só está o vazio e as paredes. Nada disso é meu. Nunca foi.

Ora, nas minhas memórias, 20 anos de memórias, estão muitas coisas. A infância lá passada, a adolescência, a fase já de adulto, os balões que se atiravam cheios de água para a rua, os dias de estudo, os dias de computador, os dias em que tinha um quarto livre para fazer nele o que queria, as festas que lá se fizeram, as conversas que lá se tiveram. Enfim. Uma vida que levo comigo.

Levamos todos. Nada fica lá para que os novos donos possam escrever as suas novas histórias sem interferências nossas.

6 comentários:

D. disse...

a mim também me aconteceu isso... pensei que ia ficar deprimida por nunca mais entrar naquele quarto, onde passei toda a minha vida, dezasseis anos a fazer aqueles corredores e divisões... depois, percebi que não sinto saudades da casa onde morava. já me consigo até, orientar nesta com as luzes apagadas (dons de mulher) e nunca estranhei estas novas paredes. na outra casa, ficaram muitas histórias, que persistem na memória... quanto à tua antiga casa, posso dizer que fez um bocadinho parte da minha vida nos ultimos tempos, recordo coisas boas que fizemos aí (esta frase pode ganhar um sentido estranho), deixei nela o cheiro do meu cócó e também os meus cabelos e peles secas na banheira... que giro!!! agora estou à espera de ir à casa nova, ver as paredes cor de rosa do teu quarto!!! EHEH

José Carlos Gomes disse...

Pára tudo!!! Paredes cor-de-rosa no teu quarto???? Ao que um gajo pode chegar... Se bem que agora dormes todos os dias com uma menina tenrinha... :)

O que mais me custou na tua mudança de casa foi mesmo os móveis que ajudei a carregar pelas escadas abaixo. Ainda me dói o corpo.

D. disse...

menina tenrinha essa, que está farta de se queixar do ser animalesco que dorme com ela... eheheehhee

pedro oliveira disse...

Espero não estar a comentar em algo demasiado íntimo... o Zé Carlos a discutir paredes cor-de-rosa?
Agora a sério... um abraço João Pedro, também, vou fazer mudanças em breve, já ando a encaixotar coisas, de algum modo sinto o mesmo que tu.
Paredes são, apenas, paredes.

P.S. Se calhar convido o Zé para as mudanças, já que tem experiência em carregar móveis pelas escadas abaixo (o meu prédio, também, não tem elevador).

João Pedro disse...

Menina tenrinha? A última vez que a vi estava vestida de puta. Ela e a amiga Daniela. De tenrinhas não devem ter nada.

Em relação ao cor de rosa isso é a parte do quarto da minha irmã. A minha é a madeira vigorosa e máscula que está no soalho. Aliás, já que eu não tenho interesse nessa área, quem quiser tacos para meter no cu... :)

Quanto ao facto do Pedro Oliveira ir convidar o Zé, acho melhor não... a não ser que só tenhas paninhos que é com o que ele pode! :)

José Carlos Gomes disse...

É paninhos, é... Enquanto andavas para lá stressado - parecias uma gaja histérica -, carregava eu móveis pesados. Tu nem viste, andavas entretido com essas reflexões sobre a casa e as paredes e o recheio... Panasca! :)